Textículo (*) s. m., texto ridículo; texto pequeno. (* não existe no dicionário)
24.4.09

Por estes dias homens de inabalável seriedade vão surgindo no palco carregando as más notícias. Na antiguidade frequantava-se Delfos, lá uma sacerdotisa em transe revelaria os augúrios e as colheitas que se avizinhavam, hoje temos painelistas e comentadores habéis no jargão, as respostas essas como antes continuam ébrias, enigmáticas e vácuas. "O futuro", diz um com pausa tão despudorada quanto pátetica, "não parece muito optimista.", "Fazer previsões é complicado, em especial acerca do futuro.", aqui temos um oco joãopintismo sem pausas nem ideias, reincidindo mais tarde com, "(...)é díficil fazer previsões neste momento.", termino com uma pífia bombarda, "Nesta situação o único factor distinto das anteriores é a falta de visão do que poderá vir a seguir." e ainda temos os hipotecadores, vulgarmente sentados nas cadeiras do poder ou do estado, munidos certamente duma bola-de-cristal afirmam que "(...)isto ainda poderia ser pior.", convictos que estão do seu desígnio salvador.

Esta lógica é sedutora e pasto para arranjar desculpas num qualquer momento, numa qualquer instabilidade invencível da qual a situação actual deriva. Assim não vale a pena correr para o autocarro que ameaça partir, já era demasiado tarde, aliás, já era tarde quando o atrasado nasceu, então no momento em que o autocarro dobrou a curva, ficou desesperado e sem visão do futuro, pelo menos do futuro em que ia no autocarro, do futuro que viveria. Esta falta de visão é a sua falha fundamental e separa o atrasado do conhecimento que de irá acontecer se algo suceder, diz a teoria.

O universo não tem mecânica relojoeira, até eu percebo e que o digam os cientistas que procuram desde um determinado instante à quinze mil milhões de anos a dedução do futuro do universo. O mistério para lá do ver-à-frente destes rosacruzes clarividentes cheira a chulice e defende o pagamento deste livre-arbítrio por eles "gerido" e pelo qual não assumem responsabilidade, protege uns poucos, os compensados pela mudança das condições iniciais e os indemnizados pelo desaparecimento eventual do algo que já os enriquece no presente. Ninguém convida uma trupe de palhaços para um funeral e ainda que a ideia já não me pareça tão idiota como antigamente na comunicação social não o é concerteza.

 

 

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