Instigado a ser verrinoso com os psi's, vou tentar ser adequadamente irritante. E começo por confessar que conto por amigos, mais psicólogos do que seria admissível para uma pessoa de bem, tenho de ser mais vigilante com as companhias e se de ínicio parecem pessoas encantadoras, rapidamente lhes transborda o proselitismo e zelo de membros duma seita religiosa de eunucos, que prega, apenas, existirem duas classes de pessoas, os que fazem terapia e os que deveriam estar a fazê-la, seguros de que viram a luz, guardam a verdade atrás duma nota de 50€ e enquanto numa religião é dito que se é responsável pelos vícios próprios e sua expiação, na "Igreja da culpa adiada" incrimina-se a infância e os desiquilibrios quimicos. O sermão assegura que a sanidade fermenta como um resto de maionese sob o sol de Agosto, onde "bactérias" decompõem a réstia de consciência aplicando-lhe uma reengenharia nos neuro-transmissores, deixando-os no equivalente químico de um desastre ferroviário.
E quando já ninguém espera a inquisição espanhola, é-se surpreendido na rua por aprendizes de Torquemada, denunciando a poeira nos comportamentos e o respectivo incomodo à auto-estima alheia, mão no peito e credo na boca, defendem a esterilização clínica do contacto humano punido a fogo e divã. A auto-estima é um tema muito caro, até porque permite desde tenra idade levar a miúdagem à "catequese" e dela sairem tubérculos birrentos que crescem vítimas auto-comiseradas dum conto de fadas terapêutico e auto-indulgente, mancos e incapazes de lidar com uma realidade dura, para a qual a força de carácter é vista como um síntoma de insuficiência emocional.
No afã de se confirmar como ciência, a psicologia tem sido pasto das mais diversas teorias "afaga-choramingas" e vulgarmente num discurso politicamente correcto para retardados, desatou a dar por sintomas tudo e mais alguma coisa, e por consequência, tudo passou a ter uma qualquer desordem diagnosticável necessitada de terapia. E se as histerias à antiga são plausiveis (esquizofrenias, bipolaridades e comportamentos obsessivo-compulsivos), a patologia do enfado-das-tardes-outono, transtorno não-consigo-engatar-uma-gaja ou ainda o síndrome só-por-sorte-tenho-personalidade, teriam no 45 calçado no pé direito do sargento Barcelos a justa ferramenta para acerto de atitute que os poria de imediato em contacto íntimo e sensível com os sentimentos. Isso sim é terapia. Não consegui fazer pior, peço desculpa. :)